O município de Campo Novo do Parecis, que fica no noroeste de Mato Grosso, a 390 quilômetros de Cuiabá, não possui nenhum cinema, mas é de lá que vem grande parte da pipoca consumida nas salas de exibição de todo o país.
Além de maior produtor de milho-pipoca, com 50 mil hectares cultivados, e líder na produção nacional de girassol, com 25 mil hectares nesta safra, Parecis também se destaca pela diversidade de culturas semeadas no período da seca, logo após a colheita da soja. Tem lavouras de milho-canjica, grão-de-bico, painço, gergelim, chia, niger e feijões azuki e caupi.
O produtor Sergio Stefanelo, pioneiro na diversificação, no começo deste ano plantou 2.700 hectares de pipoca e nenhum canteiro do milho para ração animal, que é a cultura mais semeada na segunda safra em Campo Novo. Ele conta que até 12 anos atrás o Brasil era o maior importador mundial de milho-pipoca, que vinha da Argentina.
Com o avanço do plantio em Parecis, em pouco tempo o Brasil se tornou o segundo maior exportador do mundo de milho-pipoca. Sergio estima que a região da Chapada do Parecis, onde está o município, responde por 75% da produção nacional, que é de 300 mil toneladas, das quais 220 mil toneladas são consumidas no mercado interno.
A rentabilidade do milho-pipoca está diretamente relacionada com o preço do cereal comum, pois seu custo de produção é de 2 a 2,2 vezes maior. Sergio diz que, nesta safra, o mercado está equilibrado, pois, enquanto o cereal para ração é negociado a R$ 22 a saca de 60 quilos, os produtores de pipoca recebem entre R$ 46 e R$ 48. A exportação, diz ele, tornou o mercado mais estável.
REGIÃO CORRESPONDE A 75% DA PRODUÇÃO DE MILHO-PIPOCA DO BRASIL
Mas a própria vida do produtor rural Sergio Stefanelo, a exemplo de outros desbravadores do Cerrado brasileiro, daria um belo roteiro de filme. Aos 21 anos e recém-formado em agronomia, o gaúcho de Cruz Alta chegou em 1985 à Chapada do Parecis, no noroeste de Mato Grosso, junto com o cunhado Luís Carlos Loro, para abrir a fazenda comprada pela família.
Ele lembra que eles simplesmente quebraram no primeiro ano em que plantaram arroz, “para amansar a terra, já que a planta resiste à acidez do solo ainda virgem”.
Era a época do governo José Sarney e seu famigerado Plano Cruzado, que tabelou os preços agrícolas abaixo do custo de produção e impôs uma correção monetária que não estava prevista nos contratos de financiamento, que já tinham uma taxa de juros de 10% ao ano. A dívida se tornou impagável e levou milhares de produtores a participar da “Marcha a Brasília”, um grande protesto realizado em fevereiro de 1987.
Sem crédito e sem capital, Sergio encontrou a salvação no plantio do girassol, até então desconhecido na região. Ao saber da falta de girassol e dos altos preços do grão no mercado, ele decidiu importar sementes da Argentina e apostar no plantio. O resultado da lavoura foi satisfatório e a produção, vendida como comida para pássaros, o que permitiu se capitalizar para continuar na lida.
Hoje, o produtor cultiva 3.600 hectares de girassol. A beleza das flores, que encanta os leigos, leva a pensar que as plantas são todas iguais. Mas não: ele planta 2.200 hectares de sementes para alimentar pássaros, 500 hectares para confeitaria e outros 900 hectares de grãos alto oleicos, que têm baixo teor de gordura saturada. Nesta safra, ele também cultiva 300 hectares de gergelim, 440 hectares de painço, 230 hectares de niger (comida de pássaros), 1.400 hectares de feijão azuki e 400 hectares de feijão-caupi.
O gerente agrícola na Fazenda Stefanelo, Eder Gurski, aponta diversas vantagens da diversificação para alternar o cultivo sucessivo de soja, algodão e milho comum. Ele destaca a diminuição da incidência de pragas e doenças, a reciclagem de nutrientes do solo e a redução do uso de defensivos químicos, uma vez que nas culturas alternativas são usados primeiramene produtos biológicos e fisiológicos.
Fonte: Venilson Ferreira